Il y a quelques jours, voici l'information que j'ai reçue de mon département sécurité. Encore un exmple du tragique-comique africain..
"Selon des informations en provenance de Panzi, dans la commune d’Ibanda, avenue Mushununu, un Chimpanzé a surgi dans le quartier ce matin vers 9 heures.
La population(les enfants) l’ont poursuit et l’attaquer à coup des pierre ; voulant se défendre l’animal s’est attaqué à cette population et a blessé gravement deux femmes qui seraient hospitalisées en ce moment à l’hôpital de Panzi, un homme a été blessé par des pierres et admis en soins intensifs à Panzi.
Le dit Chimpanzé serait tué à coup des pierre et bâtons par la population, remis à la cheftaine du quartier.
D’où venait l’animal et où allait-il ?
Existe-t-il un parc aux environs ? Voila les questions que l’on se pose, Dossier à suivre. "
Réponse d'un de mes collèges:
"Salut,
C’est le fruit du braconnage peut être, mais les gens ne sont pas gentils, pourquoi s’attaquer a notre frère qui a choisi de quitter la foret et nous rejoindre en ville, que justice soit faite, la société civile et les organisations des droits des individus doivent s’en occuper, même si l’individu était nu, et ne parle pas la langue des humains. "
Hilarant!
terça-feira, 31 de agosto de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Dureza Africana III: Justin
Começa por me contar uma história sobre a mulher dele, que a família dela a veio buscar há já mais de um ano, porque ele não tinha pago o dote à família dela. “Como assim a própria família a veio buscar? Há quanto tempo estão juntos? Têm filhos?” pergunto. Há mais de 9 anos que estão juntos, e têm 3 flhos. “Então porquê é que só depois de tanto tempo é que se decidiram a cobrar a dívida? E já agora, de quanto é a tal dívida?” O dote total eram $1,200 – mas ele já pagou $600 há muito tempo, quando foi trabalhar para o Rwanda depois do genocídio. Mas depois ficou sem trabalho, e com o conflicto cá, intermitente desde 1997 teve dificuldades em estabilizar-se. Ficou 5 anos desempregado (2004-2009) e o ano passado conseguiu emprego, como cozinheiro. Foi só passar um mês que a família dela a veio buscar, dizendo: “agora tens dinheiro, trabalhas para um grande ONG americana, não ha desculpa”. Ele ganha $280 por mês, tem a educação dos 3 filhos e renda para pagar, e cá nem tudo é barato. Pensei como os avós paternos podem ser tão desconsiderados para com os próprios netos. Mas senti que havia algo mas além que eu não entendia. E de verdade não entendo nem creio que algum dia poderei entender. O Justin e a mulher dele apaixonaram-se quando ele tinha 25 e ela 15, e como eram de tribos diferentes, jovens e apaixonados decidiram fugir e ir viver juntos. Um ano depois ela estava à espera de bébé. Uns anos depois, quando ele estava a trabalhar, decidiram oficializar a união deles, e como é costume cá, o homem tem de pagar o dote à família da mulher.
Normalemente a familía do noivo ajuda, como no mundo Ocidental os pais ajudam o futuro casal financeiramente – se é que a comparação se aplica de todo. No entanto, no caso do Justin os pais dele já tinham morrido e ele era o mais velho de vários irmãos, então era para ele que os familiares se viravam quando precisavam de ajuda, nunca o contrário. Por conseguinte, ele teve de começar a juntar $1,200 – o que ele fez, e em pouco mais de um ano pagou a metade. Mas como boa família africana, esta não demorou muito tempo para crescer, e com isso veio também um aumento de gastos, o que fez com que ficasse cada vez menos margem para pagar o dote. Não faz mal, poderia pensar um ocidental, a família da mulher de certeza que vai entender e nem vai exigir o pagamento da dívida para ajudar o jovem casal e não perjudicar o crescimento das crianças. Nada disso. Vieram e privaram as criançãs da mãe – a mais nova tem 4 anos – e vice versa. Deshumano? Não diz o Justin, é cultura. Ele mesmo não quer que a mulher volte sem que ele pague o que deve. É uma questão de honra. De todas as formas eles já estão mal vistos pela comunidade, e se ela voltar é “taboo”. “ Vous savez ce que cela veut dire, Vera?” Ele já tem $200 guardados, e tinha alguém dentro da ONG que lhe ia emprestar os outros $400 para completar a dívida, mas entretanto a mulher desse amigo ficou também à espera de bébé – surpresa – então ele não se pode dar ao luxo de desponibilizar-lhe esse dinheiro. “Por isso Mama Vera, venho falar consigo. Sei que tem um bom coração e que vamos arranjar uma solução.”
Petrificada. É por isto que custa a tantos trabalhadores humanitários ver as pessoas que trabalham directamente para eles como outras pessoas. Porque pessoas são sinónimo de problemas, complexidades, desafios. É mais fácil vê-los como o guarda ou o cozinheiro do que como Simba ou Justin. Tornam-se concretos, palpáveis, reais. Com voz. E o que fazer com estes pedidos? Ignorá-los? Como seria isso possível. Falo com os que vivem comigo, todos me dizem: “Não dês. Nem sabes se é verdade. Ele só te veio pedir porque soube que deste ao outro. Uma vez que começas não vais poder parar. Ainda por cima não é bom para a imagem da ONG.”
Argumentos certamente válidos, no entanto se eu não tivesse num contexto de pobreza africana e uma situação similar aparecesse, eu ajudaria. Na minha família sempre tentamos ajudar as pessoas que trabalhavam com ou para nós, não se pode ajudar toda a gente, mas pelo menos ajudamos aqueles que podemos. Porquê é que eu havia de ser diferente? Ah pois, porque na verdade ia estar a dar dinheiro – ou seja, a apoiar, mesmo que de forma inderecta, uma instituição que eu julgo arcaica e perjudicial para as mulheres: o dote, e o sistema patriarcal que este implica que se encontra presente na maior parte das tribos africanas. $ 600 fáceis para a família da mulher.
Que fazer? Depois de ouvi-lo durante mais de uma hora, e de chamar a Jeanne, a senhora da limpeza, para ouvir a opinião dela como mulher africana que entende mais dos usos e costumes que eu e conhece a família, digo que vou pensar. Por um lado não quero contribuir à perenização de uma instituição pela qual, pessoalmente e intelectualemente, não tenho nenhum respeito, mas por outro sei que se não fizer nada estou a privar três crianças por um ano da mãe, pelos estandares ocidentais, e pelo critério africano estou a prolongar o período de vergonha e taboo que vai marcar a família durante tempos.
Vá, tenho de ser racional: o Justin tinha me dito que conseguia poupar $50 por mês, fazendo sacrifícios mas sem perjudicar as crianças, o que faz que se ele começar a pagar agora em Agosto pode recuperar a mulher em finais de Março. Março? Demasiado tempo, e as crianças recomeçam a escola em Setembro. Além do mais o Justin diz-me que é um pior gestor sem a mulher, fazendo que mesmo se ela voltar – o que aumentaria o número de bocas a alimentar – os gastos mensuais não aumentariam necessariamente: ela sabe onde comprar “fufu” barato e vegetais e frutas mais acessíveis, ele não, porque trabalha o dia inteiro e o tempo não lhe chega. Como ajudá-lo sem torná-lo um assistido? Como mostrar que ele pode contar comigo mas que eu não sou um poço sem fundo ou um “euro com patas”? Na verdade, toda a gente deve poder ter acesso ao crédito, se não fosse por isso e por instituições que me acompanharam no meu percurso académico, eu nunca estaria hoje onde estou. Nas nossas sociedades exsitem estructuras, instituições para este tipo de ajudas – o que torna o processo mais fácil porque quase anónimo. Cá não, se não for pela ajuda do “grand frère” ninguém chega a lado nenhum. Ainda por cima no Congo – o mesmo Congo de Mobuto. Tudo se torna pessoal. Mas será que porque ele é tecnicamente meu empregado e eu estou cá em missão, ou seja a reprensentar uma instituição, não posso tomar este tipo de liberdades?
Pensei no que eu cá estou a fazer – quais são os princípios que eu acredito. Claro, ele merece ajuda – não tem culpa que o país dele não lhe possa dar o apoio que França (e não Portugal) me deu – mas também o meu objectivo é que ele possa ajudar-se a si próprio, e possa continuar a fazè-lo uma vez eu não esteja cá. Insisti muito com ele para que ele me fizesse propostas, viesse com soluções para dividir as prestações de uma forma que pudesse ser realista. Eu estava puxar por ele e a provocar a maieutica, e no fim disse lhe: “Sabes qual é o meu trabalho cá no Congo? Trabalho para um programa que se chama reconstrucção dirigida pelas comunidades, o que quer dizer que são as comunidades elas mesmas que decidem o seu próprio plano de desenvolvimento. Bom, tu dizes que consegues poupar $50 por mês, pois bem, vamos fazer um teste. Se passares esse teste, eu ajudo-te com o resto. Mostra-me que consegues pôr de lado $50 em Agosto e $50 em Setembro – com isso e os $200 que dizes que já tens de lado chegas a $300. Se em finais de Setembro me mostras $300, eu empresto-te os $300 restantes e assim podes ter a tua mulher de volta a passar de uns dias. Ficas a pagar-me $50 até finais de Março.” Não consegui pensar em nada melhor. Não sei se é o correcto a fazer segundo a política da minha ONGs, nem sei se isso me vai causar mais “problemas” porque outros virão com outros pedidos, seguramente tão ou mais graves. Mas foi o que pude fazer.
O que nos faz humanos é poder contar com os outros. Não existimos sózinhos, precisamos das nossas redes sociais. No entanto, não posso inundar o mundo do Justin com o meu: o que é que são para mim os $400 que lhe faltam hoje? Não muito. Mas também não lhe posso mostrar o que me diferencia dele de forma tão gritante. Falei-lhe da minha família, de como também passamos por dificuldades, à nossa escala, e de como a solução que eu lhe proponho me parece justa. Confio nele, mas não o conheço muito. Para ser sincera só o vejo alguns minutos por dia durante o pequeno-almoço e o almoço e esta foi a primeira grande conversa que tive com ele. De pessoa a pessoa, não de branco para preto ou de chefe para empregado.
Vai ser um teste, tanto para ele como para mim.
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
Dureza Africana II: Simba
7H50: já no carro para ir para o trabalho, normalmente vou a pé mas desta vez estava a acompanhar a Janny, a minha nova roomate que acabou de chegar, quando o Simba – guarda de dia – aparece à minha frente em roupas de civil com cara de preocupado. Ele tem estado doente e com a Robyn, ex roomate, até tinhamos falado com o nosso responsável da segurança para exigir à companhia KK Security de o deixar meter baixa – a consequência da nossa preocupação foi um castigo para ele – deixou de ser pago durante uns dias - por nos ter falado dos problemas dele e se ter queixado.
Há já mais de uma semana que não via o Simba então pensei que finalmente lhe tinham dado baixa e ele estava em casa a recuperar. Mas não, aí estava ele ainda mais magro, com mais pústulas pelo corpo e já sem conseguir falar. Consegue balbuciar que já fez muitos testes: malária, tifoide, dengue e que ninguém sabe o que ele tem. Pede me $20 para poder fazer mais testes, talvez até vá ao médico tradicional. Apanhou-me tão de surpresa, tão de manhã e tão com pressa, que só pude pensar em ver se tinha dinheiro e como não tinha troco, em pedir à Janny. Ela tinha $50, dei-lhe isso – a cara dele iluminou-se - e eu entrei no carro e lá disparamos pelo portão. Quando voltei a mim, a Janny que não fala perfeitamente francês, perguntou-me do que é que se tratava. Contei-lhe e a resposta dela foi imediata: “pode ser SIDA, perguntaste-lhe?” É delicado insinuar a alguém que tem SIDA – e cá é visto como um grande insulto, mas sinceramente se isso me tivesse passado pela cabeça, teria passado mais tempo com ele para tentar chegar ao fundo do assunto e ver que testes é que lhe faltam ainda fazer. Mas não, não foi isso que eu fiz. Nem pensei em que poderia ser SIDA, nem lhe dediquei mais do que dois minutos do meu tempo. De repente, com o carro a abanar pelas estradas de Bukavu, senti-me culpada. Culpada de ter tido a reacção da branca típica: “toma lá dinheiro e não me chateies com os teus problemas.”
De volta a casa à hora do almoço vou falar com Justin, o cozinheiro, para lhe perguntar se ele consegue entrar em contacto com o Simba – cá as pessoas conhecem-se sempre – e ele diz me que sim, que conhêce-o a ele e à família bastante bem, são quase vizinhos e que também está preocupado com o seu estado de saúde. Explico-lhe com cuidado o nosso encontro da manhã, mas na verdade devido às diferençãs culturais, nem sabia como lhe introduzir a idea de que poderia ser SIDA. Não foi preciso – bastou-me insunar “que poderia ser outra coisa, mais grave” que o Justin respondeu logo que ele também pensou se não seria SIDA. Até tinha comentado isso com o Simba há umas semanas atrás, mas a reacção dele foi a típica reacção de um homem africano: como poderia ele ter apanhado isso? Afinal ele era casado!
Falamos soubre a gravidade da doença, sobre a dificuldade de identificar os sintomas, e ele prometeu-me que iria ver o Simba durante o fim de semana. Fiquei resignada mas um pouco mais descansada.. No fim da conversa, o Justin agradece e comenta que eu, depois de tão pouco tempo, já tenho a fama de ser a mãe de todos, e que a “mama Vera” é diferente dos outros Mzungos (brancos), que toda a gente gosta de mim. Senti-me um pouco desconfortável com esta inundação de elogios, ainda por mais porque sentia que não eram merecidos. Como é que me podem estar a agradecer por ser humana?
Depois percebi: ele também tinha algo para me pedir.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Depois de dois meses: dureza africana (I)
Exactamente dois meses depois de ter chegado sinto que já estou no meu elemento. Já conheço as ruas e os truques da cidade, o nome dos chauffeurs e dos guardas do trabalho, o meu staff já vem ter comigo para me pedir conselhos sobre o que devem fazer e já nem estranho a arquitectura da cidade, a poeira ou o mau estado das estradas. É engraçado como o ser humano se habitua a tudo.. Watu wazoezi yote.
No entanto há coisas que nunca poderei habituar me como a indiferença de certos congoleses para com outros, em particular o tratamento dos meus guardas pela empresa KK Security, e o estatuto das mulheres. Nunca me considerei uma feministra acérrima mas cá é impossível não sofrer com o destino das mulheres congolesas. Sem mencionar as violações sistemáticas pelos rebeldes ou soldados das forças armadas estaduais, no outro dia estava a levar a minha professora de Swahili a casa e a essa hora passa sempre o mesmo programa na radio: um homem a falar alto, tom de zangado, e a mulher sempre a responder com uma voz de medo e meio a chorar. Perguntei a rir porque é que é sempre o mesmo padrão, e aí o chauffeur responde da forma mais natural que, porque a mulher se porta sempre mal, o homem está a castigá-la. Não fiz grande caso porque visto o nível de educação do Baby e conhecendo os africanos, honestamente não esperava outro comentário. O que me sorprendeu foi a naturalidade do comentário da Véronique, professora de Swahili da Alliance Française e de todos os expatriados de Bukavu: ele está-lhe a bater.
Perguntei: “mas isso é comum?”
– “É” diz ela, “aqui os homens batem frequentemente nas mulheres.”
- “Frequentemente ou de vez em quando? Quão frequentemente, uma vez por mês?”
- “Sim, uma vez por mês ou mais.”
- “Mas todos batem nas suas mulheres ou tem a ver com o nível de educação e riqueza?”
- “Todos batem, mais cedo ou mais tarde.” “Kwa heri, Vera. Kwa juma kesho” . “Adeus Vera, até para a semana”, e sai do carro despedindo-se. Na rádio continuo a ouvir a voz da pobre mulher a choramingar.
Assinar:
Postagens (Atom)